sábado, 25 de agosto de 2012

Amazônia Central. Estudos de Cerâmica: arqueologia Amazônica, grupos tupí, arqueologia do baixo Rio Negro, arqueologia e linguística.

amazônia central - estudos da cerâmica : uma análise da ocupação 

 Revista de Antropologia 

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-77011998000100003&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt 

Rev. Antropol. vol.41 n.1 São Paulo  1998   http://dx.doi.org/10.1590/S0034-77011998000100003 

De onde surgem os modelos? As origens e expansões Tupi na Amazônia Central

Michael J. Heckenberger
(Museu Nacional - UFRJ)
Eduardo G. Neves
(Museu de Arqueologia e Etnologia - USP)
James B. Petersen
(University of Vermont)


RESUMO: Este artigo apresenta subsídios arqueológicos para o debate - revisitado por Franciso Noelli, Eduardo Viveiros de Castro e Greg Urban nas páginas da Revista de Antropologia - sobre a suposta origem das línguas do tronco Tupí na Amazônia central. Apresentamos aqui os resultados preliminares de nossas pesquisas arqueológicas na área de confluência dos rios Negro e Solimões que levantam restrições às premissas arqueológicas desse modelo, primeiramente apresentadas por Donald Lathrap em 1970.
PALAVRAS-CHAVE: arqueologia Amazônica, grupos tupí, arqueologia do baixo Rio Negro, arqueologia, linguística


I. Introdução
Desde a publicação de The Upper Amazon em 1970, a obra fundamental de Donald Lathrap sobre a história cultural amazônica, tomou corpo a hipótese que propõe a precedência temporal de cerâmicas policromas na Amazônia central. Do mesmo modo, estabeleceu-se a hipótese de que essas cerâmicas, associadas à chamada "tradição policroma da Amazônia" (TPA), seriam correlacionadas arqueológicamente à populações falantes de línguas do tronco Tupi, principalmente as línguas da família Tupi-Guarani. Lathrap tentou explicar a distribuição dos grandes grupos lingüísticos e estilos cerâmicos na Amazônia através de seu "modelo cardíaco". Esse modelo preconizava que a pressão populacional nas áreas ribeirinhas da Amazônia central, que ele acreditava ter sido o centro mais antigo de desenvolvimento de agricultura e sedentarismo no continente americano (Lathrap 1974, 1977), resultaram em um êxodo populacional contínuo centrífugo através da colonização das bacias dos principais afluentes do Amazonas, como o Negro e o Madeira, assim como pela colonização do Solimões e do baixo Amazonas. Lathrap concentrou seu foco em duas migrações principais: de um lado na migração de grupos falantes de línguas da família Maipuran do tronco Arawak, que ele associou à série ou tradição cerâmica "Barrancóide" ou Incisa-Modelada1 (TB/IM) (Lathrap 1970a: 113); de outro lado, à migração de grupos da família lingüística Tupi-Guarani, que de acordo com Lathrap seriam representados nessa expansão pela distribuição de cerâmicas policromas (com pinturas em preto, vermelho ou preto e vermelho sobre engobo branco) associadas à TPA (Lathrap 1970a: 150-151; 1972).
O modelo geral brevemente apresentado acima foi posteriormente expandido pelas dissertações de doutorado de dois alunos de Lathrap: o brasileiro José Brochado (1984) refinou o componente referente às expansões Tupi e Guarani pelo leste e sul do Brasil enquanto que o porto-riquenho José Oliver (1989) trabalhou com os problemas da expansão Maipuran pelo norte da América do Sul e Caribe. Recentemente, a questão da expansão dos grupos Tupi e Guarani foi retomada em um artigo publicado nessa revista por um dos estudantes de Brochado, Francisco Noelli (1996). O artigo de Noelli apresenta uma elaboração engenhosa da modelos de Lathrap e Brochado, em particular da "hipótese da pinça" - ilustrada por Brochado através da figura da boca de um jacaré gigante que tem como maxilar o baixo Amazonas e como mandíbula o rio Madeira, (Brochado 1984, 1989).
O trabalho de Noelli tem o mérito de chamar a atenção para a contribuição indispensável que a arqueologia pode fazer para os estudos de história indígena. Estranhamente, no entanto, nenhum dos dois especialistas convidados pela Revista de Antropologia para debater as idéias do artigo é arqueólogo, um reflexo do já consumado divórcio entre a arqueologia e a etnologia no Brasil. O presente trabalho é oferecido como uma contribuição à discussão desencadeada pelo artigo de Noelli. Pretendemos aqui apresentar elementos arqueológicos para questionar a suposta origem na Amazônia central das línguas proto-Tupi ou proto-Tupi-Guarani. Tal questionamento é baseado nas recentes, e ainda preliminares, pesquisas arqueológicas realizadas pelos autores na área de confluência dos rios Negro e Solimões, Estado do Amazonas (fig. 1).







KEY WORDS: amazonic archeology, tupi groups, lower Rio Negro archeology, archeology, linguistic.
Aceito para publicação em maio de 1998.

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