http://www.scielo.org.ve/scielo.php?pid=S0004-06222004000300001&script=sci_arttext
Efeitos terapêuticos dos fitosteróis e fitostanóis na colesterolemia
Silvia L. C. Martins1 , Heliênia F. Silva1 , Maria Rita Carvalho Garbi Novaes2 , Marina Kiyomi Ito1
Departamento
de Nutrição. Faculdade de Ciências da Saúde. Universidade de Brasília1.
Faculdade de Medicina. Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da
Saúde. Brasília-DF, Brasil2
RESUMO
Os ésteres de esterol e estanóis vegetais são reconhecidos como
componentes "funcionais" dos alimentos por apresentarem propriedades
hipocolesterolêmicas. Os fitosteróis são compostos esteróis osbtidos de
óleos vegetais. Neste estudo foi realizado uma análise críticarevisão de
estudos experimentais e clínicos recentes, publicados em base de dados
Medline e Lilacs, abordando a ação farmacológica dos fitoesteróis e
fitoestanóis na colesterolemia. Os efeitos hipocolesterolemiantes são
observados pela ingestão de doses maciças, em dose única ou múltipla, de
até 2,5 g/dia destes compostos. O consumo diário por durante quatro
semanas tem evidenciado a redução dos níveis sanguíneos de colesterol
total (CT) e LDL-colesterol (LDL-c) em cerca de 10%. O mecanismo de ação
na diminuição da colesterolemia se deve, possivelmente, à sua
semelhança estrutural com o colesterol, o que favorece uma competição na
absorção intestinal, entre ésteres de esterol e/ou estanol e o
colesterol. Efeitos adversos da suplementação de fitosteróis e
fitostanóis ocasionaram a diminuição da absorção de algumas vitaminas e
antioxidantes lipossolúveis.
Palavras-chaves: Fitosteróis, fitostanóis, colesterolemia.
SUMMARY
Therapeutic effects of phytosterols and phytostanols in cholesterolemia. Plant
sterol and stanol esters are called "functional" compounds due to their
hypocholesterolemic properties. The objective of this review is to
update recent findings concerning the effect of phytosterols in the
blood cholesterol, emphasizing the results from experimental and human
studies. The hypocholesterolemic effect is observed with the intake of
2.5g/day of phytosterols or phytostanols. Daily intake, usually of
stanols, for 4 weeks has shown to to be effective in lowering blood
total- as well as LDL-cholesterol by about 10%. The mechanism of action
in lowering blood cholesterol comes from their structural similarity to
cholesterol, hence they act by competing with cholesterol at the luminal
absorption site. The adverse effects of a high intake of phytosterols
and phytostanols are the lower absorption of some liposoluble vitamins
and antioxidants.
Key words: Pphytosterols, phytostanols, blood cholesterol.
Recibido: 20-10-2003
Aceptado: 11-06-2004
INTRODUÇÃO
Os efeitos dos fitosteróis na redução da colesterolemia tem sido
amplamente estudados desde a década de 50 e, atualmente, são
reconhecidos como componentes "funcionais" por apresentarem propriedades
hipocolesterolêmicas (1,2).
Os esteróis
são componentes essenciais às membranas das células, e podem ser
produzidos por animais e plantas. Os fitosteróis são compostos esteróis
oriundos dos óleos vegetais e apresentam grande similaridade estrutural
com o colesterol (1). São compostos com 28 ou 29 carbonos, diferindo do
colesterol (27 carbonos) pela presença de um radical metila ou etila
adicional na cadeia carbônica (3). Os fitosteróis mais estudados:
?-sitosterol e campesterol apresentam uma insaturação em sua estrutura,
similar ao colesterol. Quando essa dupla ligação não está presente ou é
desfeita artificialmente, temos os análogos b -sitostanol e campestanol (Figura 1)
(3). Os estanóis são os esteróis saturados e podem ser extraídos dos
alimentos ou produzidos artificialmente por meio de hidrogenação, sendo
menos abundantes nos alimentos in natura do que os esteróis (1).
Embora na literatura sejam relatados outros efeitos dos fitosteróis,
como sua ação estrogênica no sistema reprodutivo e inibição do
crescimento de certos tipos de cancer (4), o objetivo desta revisão é
analisar os estudos mais recentes sobre os efeitos dose fitosteróis e
fitostanóis especificamente sobre a colesterolemia.
METODOLOGIA
Foram selecionados artigos experimentais e clínicos, randomizados,
duplo-cegos e pallacebo-controlados, publicados nos últimos dez anos, em
bases de dados Medline e Lilacs, cujos objetivos eram avaliar o efeito
de fitosteróis e fitostanóis na redução de hipercolesterolemia leve ou
moderada.
Fontes alimentares
Existe uma grande variedade de fitosteróis presentes nos alimentos,
sendo identificadas mais de 40 substâncias (1). Os mais abundantes nos
produtos in natura são o b
-sitosterol, o campesterol e o estigmasterol, que podem ocorrer tanto na
forma cristalina quanto esterificada a ácidos graxos livres, ácidos
fenólicos ou açúcares (5). Estes fitosteróis são os que mais se
assemelham ao colesterol, pois são do tipo 4-desmetilesteróis, ou seja,
não contêm grupo metila no carbono 4 (1). Dentre os alimentos ricos em
fitosteróis e fitostanóis, destacam-se a soja, os frutos oleaginosos e
os óleos vegetais em geral, principalmente de canola, arroz e girassol
(6). A dieta ocidental provê cerca de 100-300 mg de fitosteróis por dia,
sendo seu consumo no norte europeu estimado em 200-300 mg/dia, enquanto
japoneses e vegetarianos consomem em torno de 300-450 mg/dia (7-9). Com
relação aos fitostanóis, a dieta ocidental fornece entre 20 e 50 mg por
dia (7).
Desde 1980, reconhece-se que os
fitoesteróis poderiam ser adicionados aos alimentos. No entanto, a
adição de fitostérois e fitostanóis cristalinos a alimentos
industrializados não é a melhor opção, pois as alterações organolépticas
inerentes ao uso destas substâncias isoladas limitam seu uso. Estes
compostos cristalinos, além de deixarem um sabor "rançoso", são também
pouco solúveis quando adicionados aos alimentos, ao contrário dos
esterificados (fitosterol-ester). Por isso, os estudos mais recentes têm
avaliado a aplicação de fitosteróis e fitostanóis esterificados a
ácidos graxos. Alguns trabalhos utilizam óleo de girassol como veículo,
por promover boa solubilidade junto à fase oleosa de margarinas e cremes
vegetais (5,10), mas alguns autores também relatam o uso de emulsões
lipídicas mistas, contendo óleos de milho, soja e canola, ou algum
destes isoladamente (11,12). Como conseqüência, a indústria alimentícia
têm investido na adição de fitosteróis e fitostanóis em margarinas,
cream-cheeses, cremes vegetais e molhos para salada, incorporando-os em
maior quantidade na dieta humana (1).
Dessa forma, os estudos descritos a seguir avaliam os efeitos de
fitosteróis e fitostanóis adicionados industrialmente a margarinas e
cremes vegetais.
Efeitos sobre a colesterolemia
O relatório de estratégias para redução de colesterol sanguíneo do
Programa Nacional Americano de Educação em Colesterol (NCEP – National
Cholesterol Education Program) estima que para cada 1% de redução na
concentração de colesterol sangüíneo, o risco de doenças
cardiovasculares diminuiria em 2% (13). Segundo essas diretrizes, a
terapia dietética é primeiro passo para a diminuição do colesterol
sanguíneo, que pode favorecem uma diminuição de 10 a 13% do
LDL-colesterol (LDL-c) de forma lenta. Logo, um suplemento à dieta que
seja seguro e bem tolerado pode ser útil no manejo não farmacológico da
hipercolesterolemia visando redução mais rápida do LDL-c (13,14).
A margarina contendo ésteres de fitostanol foi lançada na Finlândia em
1995. Naquele mesmo ano, resultados de um ensaio clínico realizado
naquele país mostraram que a margarina com ésteres de estanol vegetal
pode efetuar uma redução significativa no colesterol total e no LDL-c de 10 ae 14%, respectivamente, em pacientes com hipercolesterolemia leve (15).
A revisão de estudos (1), avaliando a eficácia de margarinas com adição
de fitosteróis e fitostanóis, identificou uma diminuição média de 14%
no LDL-c com uma dose diária igual ou maior que 2 g/dia, para indivíduos
com idade entre 50 e 59 anos. Em pessoas com idade entre 40 e 49 anos, a
diminuição do LDL-c foi de 9%. Dados observacionais de ensaios
randomizados mostraram que, em pessoas de 50 a 59 anos, a diminuição do
LDL-c em 0,5 mmol/L diminuiu o risco cardiovascular em 25% depois de
dois anos de suplementação. Em pessoas mais jovens, a diminuição do
colesterol foi menor, mas houve a associação entre níveis de colesterol e
doenças cardiovasculares mais forte. Dos estudos descritos, um não
apresentou redução significativa de colesterol, apesar do consumo diário
de 3g de fitostanol. Este ensaio (16) diferiu dos outros trabalhos em
dois aspectos metodológicos: Primeiro, os indivíduos estudados não
consumiram uma dieta com composição fixa, o que prejudicou a comparação
dos resultados. Segundo, o sitostanol utilizado foi administrado em
cápsulas, ao invés de adicionado à gordura das refeições. Isto pode ter
dificultado a sua dispersão e solubilização no lúmen intestinal e,
consequentemente, limitadorndo os efeitosa eficácia dena redução do
colesterol.
Recentemente, outrosmais
ensaios clínicos, randomizados, duplo-cegos e placebo-controlados, foram
publicados, possibilitando maior conhecimento quanto à ação
hipocolesterolemiante dos fitostanóis. A Tabela 1 resume alguns dos
trabalhos que testaram a capacidade de esteróis e estanóis vegetais em
reduzir a absorção do colesterol.
Estrutura química de fitosteróis e fitostanóis. Os fitosteróis são
compostos semelhantes ao colesterol, porém apresentam um grupamento
metila ou etila extra na cadeia carbônica linear. Os fitostanóis são
moléculas similares aos fitosteróis, porém não apresentam a insaturação
do anel carbônico.
TABELA 1
Efeitos da suplementação fitosteróis e/ou fitostanóis na redução do LDL-colesterol- Estudos clínicos
Autores
|
Estudo
|
n
|
Idade média
|
Tempo
|
Composto
|
Dose
(g/dia)
|
Redução
LDL
|
Jones PJH
et al., (12)
|
Randomizado duplo-cego
|
32
|
25 a 60 anos
|
50 dias
|
Estanol
|
±1,5
(22 mg/kg/dia)
|
23 a 31%
|
Hallikainen
MA et al., (17)
|
Randomizado duplo-cego
|
42
|
30 a 65 anos
|
12 semanas
|
Esterol e estanol
|
2,02 esterol
(com 0,10 estanol)
2,06 esterol
(com 0,09 estanol)
e placebo
( com 0,09 g total
estanol)
|
Estanol= 12,7%
Esterol= 10,4 %
|
Lottenberg
AMP et al., (19)
|
Randomizado
duplo-cego cruzado
|
60
|
> 30 anos
|
8 semanas
|
Esterol
|
3
|
10 a 12%
|
Plat J. (21)
|
Randomizado
duplo-cego cruzado
|
43
|
16 a 65 anos
|
12 semanas
|
Estanol
|
2,5 (dose única eu ou fracionada em 3 vezes)
|
9 a 10%
|
Nestel P, 2000
|
Randomizado
imples-cego
|
37
|
60 anos
(de 34 a70 anos)
|
12 semanas
|
Esterol e
estanol
|
2,4 esterol e
2,4 estanol
|
13,6 %
|
Maki CK, (14)
|
Randomizado
duplo-cego
|
40
|
21 a 75 anos
|
5 semanas
|
Esterol
|
2 doses diferentes:
High Sterol (2,2)
Low Sterol (1,1)
|
High =10,2%
Low = 7,1%
|
Neil HAW,
Meijer GW,
Roe LS, (10)
|
Randomizado
duplo-cego
cruzado
|
63
|
18 a 69 anos
|
4 meses
|
Esterol
|
2,5
|
15%
|
Gylling H & Miettinen TA, (11)
|
Randomizado
duplo-cego
|
30
|
66 anos
|
1 ano
|
Estanol +
Sinvastatina
|
2
|
27%
|
Judd JT., (18)
|
Randomizado
duplo-cego
|
53
|
25 a 65 anos
|
8 semanas
|
Esterol
|
2,2
|
10%
|
Obs : Em nenhum dos trabalhos encontrou-se diferença estatisticamente significativa entre os gêneros masculino e feminino.
Hallikainen et al. (17) avaliaram a ingestão de margarina com ésteres
de fitostanóis ou fitosteróis., em pacientes hipercolesterolêmicos. Os
pacientes consumiram durante 4 semanas fitostanois ou fitosteróis, na
dose de 2,01 a 2,04 g/ dia. Houve redução significativa (p < 0,001)
do colesterol total (CT) em 9,2 e 7,3 % e de LDL-c em 12,7 e 10,4%,
respectivamente, para estanóis e esteróis. Não houve diferença na
eficiência de redução entre estanóis e esteróis.
Resultados semelhantes foram obtidos por Judd et al. (18) que
utilizaram em molhos para salada 3,6 gramas de fitosteróis e obtiveram
diminuição no (CT) de 7% e no LDL-c de 10%, enquanto o HDL permaneceu
inalterado. A diminuição de CT e LDL-c com manutenção dos níveis de HDL
têm intensa ligação com a diminuição de risco cardiovascular. Segundo
Lottenberg et al. (19), a utilização de 3g/dia de fitosteróis na dieta
deforma de margarina por 60 adultos brasileiros, portadores de
hipercolesterolemia moderada, promoveu redução de 10% do CT e de 12% do
LDL-c em um mês de intervenção. Resultados similares foram obtidos por
Neil et al (10), com 32 pacientes a uma dose de 2,5g/dia de fitosteróis,
durante quatro meses.
O efeito dose depende foi testado em esteres de estanol (20),
tendo sido observada redução significativa do LDL-c a partir do consumo
de 1,6 g/ dia de estanol. O aumento da dose diária de 2,4 para 3,2 g
não resultou em efeito adicional clinicamente importante, indicando a
existência de saturação do efeito do estanol sobre o colesterol
sanguíneo a partir de 2,4 g/ dia.
A
influência da forma de administração e posologia sobre os efeitos
terapêuticos destes compostos, também foram avaliados estudados. No
estudo de Plat et al. (21), indivíduos normocolesterolêmicos ou
levemente hipercolesterolêmicos consumiram, em ordem aleatória: placebo,
2,5 g de fitosterol no almoço ou 2,5 g de fitosterol divididos em três
doses, administradas junto às três principais refeições (0,42g no
desjejum; 0,84g no almoço e 1,25g no jantar). Cada período de
administração das doses durou 4 semanas. Observou-se uma diminuição
similar de LDL-c (9,4%) tanto na população que ingeriu 3 porções de
fitosterol fitostanol por dia quanto na que ingeriu apenas 1 porção.
Este estudo mostra que não é necessário ingerir o fitostanol junto com
colesterol dos alimentos. Os autores especulam quanto à existência de
outras ações do fitosterol, além da solubilidade micelar do colesterol,
no lumen intestinal ou na interação com os enterócitos.
Um fator que otimizou a ação dos fitostanóis foi sua ligação com a
lecitina de soja. Ostlund et al. (22) demonstraram que, para promover
redução do colesterol sérico, a administração de cápsulas de lecitina de
soja enriquecidas com 700, 300 ou 100 mg/dia de sitostanol foi mais
eficiente do que o sitostanol isolado (1000 mg/dia), promovendo redução
de 36,7%, 34,4%, 5,6% e 11,3%, respectivamente. Este estudo sugere que a
lecitina de soja pode promover maior solubilização do fitostanol na
fase micelar da digestão, indicando um efeito sinérgico, potencializando
a ação hipocolesterolêmica.
Os
fitosteróis também podem colaborar com a ação das estatinas, drogas
inibidoras da hidroximetilglutaril-coenzima A (HMG-CoA) redutase,
acelerando a redução no colesterol sérico e do LDL-c (10,11).
Relativamente poucos estudos foram publicados quanto ao efeito dos
fitosteróis naturalmente presentes nos alimentos. Considerando que, além
dos triacilgliceróis, os fitosteróis constituem o principal componente
de óleos vegetais refinados, Ostlund et al. (23) utilizando técnica
inédita de remoção do fitosterol contido no óleo, avaliou o efeito do
óleo de milho com e sem fitosteróis na absorção de colesterol
hexadeuterado ([26,26,26,27,27,27-2H6], colesterol) em humanos. A adição
de 150 mg/ refeição teste de fitosterol diminuiu em 12,1% a absorção de
colesterol. Estes resultados indicam a existência do efeito
hipocolesterolemiante dos fitosterois presentes nos óleos de milhos
comerciais, atribuído anteriormente somente aos ácidos graxos destes
óleos.
Uma maior produção hepática de
colesterol pode ocorrer quando há maior consumo de fitosteróis e
fitostanóis, como uma adaptação do organismo na sentido de recuperar os
níveis séricos anteriores. No entanto, tal resposta depende da
predisposição genética, uma vez que existe uma variabilidade grande
entre os indivíduos no que se refere à absorção do colesterol. Vanhanen
et al. (24) mostraram que a maior redução do LDL-c, quando suplementados
com sitostanol-eéster, ocorreu no grupo homozigoto para apoproteína
(apo) E-4, ao contrário do grupo apo E-3, pois é em indivíduos
portadores do alelo E-4 que há maior absorção de colesterol. Isso sugere
que, mesmo havendo um feedback hepático, a redução do LDL-c se
sobressai.
Recentemente, Tammi et al.
(25) avaliaram, durante sete meses, o efeito da suplementação
randomizada de fitosteróis na dieta de desmame de crianças saudáveis em
relação ao controle da colesterolemia. As crianças eram participantes do
projeto finlandês: Special Turku Coronary Risk Factor Intervention Project for Children
(STRIP). Os autores compararam o desmame tradicional, que incluía leite
de vaca integral, com o desmame experimental, cujo leite de vaca era
desnatado e adicionado de óleo vegetal para manter o mesmo teor
lipídico. A oferta média de fitosteróis era duas vezes maior na dieta
experimental do que na dieta controle (132 e 65 mg/dia,
respectivamente). Os resultados demonstraram que o grupo controle,
exposto a um maior consumo de gordura saturada, apresentou valores
séricos maiores de substâncias precursoras do colesterol
(?-8-colestenol, desmosterol e latosterol) do que o grupo exposto aos
fitosteróis e óleo vegetal, cujos valores permaneceram inalterados. Isto
sugere que a exposição destes indivíduos à maior ingestão de
fitosteróis não induziu a um aumento na produção hepática de colesterol,
como postulado anteriormente. Portanto, essa possível compensação
endógena, secundária à privação de colesterol exógeno, precisa ser
elucidada à luz de mais estudos controlados, esclarecendo os fatores
determinantes desse processo.
Mecanismos de ação dos fitosteróis
Apesar das semelhanças estruturais em relação ao colesterol, os
fitoesteróis e estanóis são diferentes quanto à sua utilização pelo
organismo. Heinemann et al. (26) observouaramou uma redução de 50% na
absorção do colesterol com o uso de fitosterol, assim como de 85% com
fitostanol. Além disso, Becker et al. (27) verificaram que houve aumento
na excreção fecal de colesterol após a utilização destas substâncias,
onde 1,5 g/dia de sitostanol aumentou a excreção fecal de esteróis
totais em 88%, enquanto que sitosterol, a 6g/dia, aumentou em 45%.
A diferença nas taxas de absorção entre esteróis e estanóis varia de
acordo com o tamanho da cadeia carbônica e com o grau de saturação. Com
relação ao tamanho da cadeia, as maiores estruturas apresentam menor
absorção, devido à maior hidrofobicidade destes compostos.
Comparando estas diferenças, verifica-se que, enquanto a absorção de
colesterol (C-27) varia entre 20 e 80% do ingerido, os fitosteróis
campesterol (C-28) e sitosterol (C-29) são absorvidos em torno de 15% e
1,5-5%, respectivamente (1,3). Com relação ao grau de saturação, a
absorção é menor em compostos saturados. Os fitostanóis, portanto, são
os compostos que apresentam as menores taxas de absorção, pois além de
serem saturados, assumem estruturas com 28 ou 29 carbonos. O sitostanol é
absorvido na ordem de 0 a 3%, e o campestanol apresenta níveis
igualmente baixos de absorção (28-31).
Os
fitosteróis são potencialmente tão aterogênicos quanto o colesterol,
mas a aterogênese dificilmente ocorre devido à menor absorção dos
fitosteróis, mantendo os níveis séricos entre 0,3 e 1,7 mg/dL (32). A
aterogênese secundária à absorção maciça destes compostos só ocorre na
presença de fitosterolemia, uma desordem autossôomica recessiva rara
cujos valores séricos de fitosteróis excedem os níveis de normalidade. O
acúmulo sangüíneo de fitosteróis, principalmente?-sitosterol,
campesterol, estigmasterol e avenosterol, favorece o aparecimento de
aterosclerose coronariana e aórtica, assim como de xantomas, artrite,
hemólise e infarto (25,33).
O defeito nas
proteínas transportadoras ABCG5 e ABCG8 foi recentemente identificado
como a causa desta hiper-absorção de fitosteróis (34). O estudo destas
proteínas tem permitido avanços importantes na compreensão dos
mecanismos de transporte intestinal dos esteróis. A absorção do
colesterol, fitosteróis e fitostanóis pelos enterocitos é um processo
rápido (35). Entende-se atualmente que as proteínas transportadoras ABC
são capazes de discriminar entre colesterol e outros esterois, sendo as
responsáveis pelo transporte reverso das moléculas de fitosteróis para o
lumen intestinal (36). Investigações utilizando animais transgênicos
dão suporte à hipótese de que a discriminação ocorre no efluxo destes
compostos para o lumen intestinal e para a bile. Animais geneticamente
alterados para as proteínas ABCG5 e/ ou ABCG8 hiper-absorvem não apenas o
colesterol mas também os fitosterois. Pesquisa recente, em camundongos,
de avaliação das taxas de captação intestinal, absorção, discriminação e
excreção biliar de esteróis marcados reforça a hipótese de efluxo
seletivo de esteróis como o principal componente que favorece maior
absorção para a corrente sanguinea de colesterol em relação aos
fitosterois (35). Segundo os autores, a identificação dos receptores
nucleares hormonais órfãos, tais como o RXR e receptor X farnesóide,
sugere a possibilidade de outras proteinas ABC transportadoras estarem
envolvidas no transporte intestinal dos esteróis, sendo atualmente área
de intensa investigação.
Reações adversas e toxicidade do fitosteróis
As principal reações adversas de ingestão de altas doses de fitosteróis
estão associadas à disminuição plasmáticas das vitaminas e
antioxidantes lipossolúveis (1,37). Ensaios randomizados é maior em
relação aos carotenóides mais lipofílicos, tais como os a ? e b carotenóides e o licopeno. A disminuição pode variar de 12 a 26% para b -caroteno, 10 a 12% para a
e até 20% para o licopeno sérico após suplementação de fotosteróides e
fitostanóis (1,28). Esta disminuição é minimizada, porém se mantén mesmo
quando controlada em relação às mudanças nos niveis sunguíneos de
LDL-colesterol (1,18). Por outro lado, os níveis séricos de retinol,
vitaminas D e K parecem não ser afectados (1,17,18). A ingestão de
fontes dietéticas de carotenóides, na proporção de uma porção a mais de
frutas e hortaliças ricas em carotenóides por dia, foi suficinete para
manter as concentracões plasmáticas destes carotenóides (38). Em relação
à toxicidades dos fitosteróis e fitostanóis, em ratos, a administração
de 6,6 g/kg/dia durante 90 dias não foi suficiente para gerar alterações
toxicológicas significantes (39). Além disso, outros estudos realizados
a curto e médio prazo, entre 50 dias e 12 meses, não evidenciaramênciam
efeitos colaterais no trato gastrointestinal durante a fase
experimental, e nenhum efeito tardio foi relatado.
Métodos experimentais, in vivo e in vitro utilizando, em ratas, foram
utilizados para avaliaram o efeito estrogênico dos fitosteróis (5). Foi,
tendo sido verificado que estes compostos não apresentam propriedades
de ligação aos receptores de estrógeno, ação transcripcional dos genes
responsivos à estes receptores ou atividade uterotrófica.
Regulamentação da adição de fitosteróis e fitostanóis a alimentos industrializados
No ano de 2000, a Food and Drug Administration (FDA) aprovou os uso
terapêutico dos ésteres de esterol ou estanol vegetal na redução do
risco de doenças cardiovasculares (40). Esta decisão permitiu que
alimentos adicionados com estas substâncias, como margarinas, cremes
vegetais, molhos cremosos para salada, apresentassem a explicação de que
ajudam a prevenir a doença cardiovascular (40). Segundo o a FDA,
essesos alimentos devem conter no mínimo 1,7g de fitostanol-éster em
cada porção, devendo ser administrados duas vezes ao dia, somando
3,4g/dia. O fitosterol-éster deve estar presente na quantidade de 0,65g
por porção, totalizando 1,3g/dia. Portanto, a rotulagem dos alimentos
que contêm ésteres de fitosterol ou fitostanol deverá incluir a seguinte
informação: "uma porção de (nome do alimento) fornece XX gramas de
fitosteróis/fitostanóis" (40). O rótulo poderá, também, ser acompanhado
da seguinte frase, exemplificada com fitostanóis: "Alimentos que contêm
pelo menos 1,7 gramas por porção de ésteres de estanol vegetal,
ingeridos duas vezes por dia nas refeições, resultando em uma ingestão
diária total de pelo menos 3,4 gramas, como parte de uma alimentação com
baixos teores de gordura saturada e colesterol, podem reduzir o risco
de doenças cardíacas" (40).
Embora nos
Estados Unidos (41) e Europa (42) existam produtos sendo comercializados
com aditivos contendo fitosteróis, no Brasil, ainda não existe
regulamentação específica à de rotulagem de alimentos adicionados de
fitosteróis ou fitostanóis. O único produto existente no mercado
brasileiro foi registrado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA) aos moldes da regulamentação do da FDA.
CONCLUSÃO
Os fitosteróis e fitostanóis são compostos eficientes na redução da
colesterolemia, podendo ser utilizados de forma isolada ou combinados a
outros agentes hipocolesterolemiantes. Estes efeitos são observados pela
ingestão de doses maciças, de até 2,5 g/ dia destes compostos, não
encontrados em alimentos naturais. As evidências existentes são
principalmente de produtos alimentícios nos quais estes compostos que
foram aditivados. Poucos estudosa informação têm sido do publicados
enfatizando os efeitos dos fitosteróis e fitostanóisquanto, naturalmente
presentes nos alimentos, no controle do colesterol sanguíneo.
O efeito adverso atribuído àda suplementação de fitosteróis e
fitostanóis, refere-se é a discreta diminuição da absorção de vitaminas
lipossolúveis, especialmente vitaminas A e E, o que poderia ser
compensado com o aumento no consumo de frutas e hortaliças
O resultados benéficos obtidos observado nas pesquisas clínicas
realizadas, associados àe a elucidação dos mecanismos de absorção destes
compostos pelo organismo humano, sugerem um papel importante dos
fitosteróis e estanóis na alimentação contemporânea, além de
apresentarem-se como adjuvantes importantes no tratamento da
hipercolesterolemia e, conseqüentemente, na prevenção da doença arterial
coronariana.
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